24 julho 2018

A madrugada de um sábado

Acordei com o barulho dos carros passando pela rua. Pego o celular e confiro as horas, ainda são apenas quatro da manhã, de um sábado. Provavelmente as pessoas nos carros estavam retornando para casa depois de uma noitada de bebidas e músicas estridentes no ouvido. Era para eu estar lá!
Sento escorando minhas costas na parece gelada. Sinto uma gota de suor percorrer minha testa. Caminho ate o outro lado do quarto, e lá esta o berço da minha bebê que acabará de fazer 4 meses. Abaixo o corpo e me aproximo de suas narinas para sentir se esta respirando. Dorme tão serenamente que parece nem estar ali. Meu cabelo cai em seu rosto, e fico de pé novamente temendo que ela acorde. Demoraria mais uma eternidade para fazê-la dormir outra vez.
Meus peitos estão doloridos e duros. No intervalo de tempo em que dormi se encheram de leite. Caminho ate o banheiro. Percorro a mão pela parede ate encontrar o acendedor. Acendo a luz e me encaro de frente para o espelho, como se estivesse em transe.
Ali estava eu. Pesando 44kg, com os cabelos despenteados e as unhas roídas. Rejeito a mulher que vejo naquele reflexo, e começo a me questionar se não seria por este motivo que naquele momento eu estava solteira. Puxo os meus poucos fios de cabelo para o lado e percebo que alguns se soltam entre os meus dedos. Nos últimos meses comecei a ter entradas de careca devido a minha queda capilar.
Me lembro do que havia ido fazer no banheiro e dou dois passos para o lado. Começo a abaixar o short, e me posiciono para sentar. Ouvidos atentos em qualquer som que minha bebê fosse emitir. Ouço o choro. Por um momento, imagino que alguém pudesse levantar e ver o que estava acontecendo, apenas daquela vez, mais me lembro que minha família defendia a tese, de que quem colocou no mundo que crie. Me levanto da privada sem nem ao menos ter começado a urinar e corro para o quarto tentando fazer o mínimo de barulho.
Pego a bebê no colo e a acolho em meus seios. Sinto a fisgada da gengiva agarrando o bico dos meu seio e murmuro de dor. Acendo a abajur e coloco um pano em cima para bloquear um pouco da luz.
Me sento na beirada da cama e aproveito para conferir minhas redes sociais, pouco movimentadas por sinal. Abro o WhatsApp, e a mensagem que eu tanto queria que estivesse lá, não estava. Abro o perfil, e confiro o visto por último. 3h46m da  manhã. Ele estava em alguma festa, ou com outra, constato. Sinto a lágrima percorrer minhas bochechas e jogo o celular de volta na cama. Tento de todas as formas rejeitar os pensamentos que se enfiavam na minha cabeça, mais não consigo.
Tomada pelas lágrimas, deito com a cabeça encostada no travesseiro e apoio a bebê em um dos braços, fazendo uma barreira entre ela e a beirada da cama, com meu corpo magro.
Tento puxar o peito, mais sempre que tento, ela resmunga como quem fosse acordar. Acabo deixando, e entrego meu corpo ao cansaço que vem me dominando a dias. Pego no sono com a preocupação de que minha bebê irá dormir sem arrotar, mais não consigo ficar acordada. Faz dias que não durmo... só hoje, só hoje! Fecho os olhos e apago a minha mente.
Lembro apenas de alguns fragmentos de um sonho. Me vejo feliz, correndo de mãos dadas com minha filha em um campo florido. O vento bate levemente em meu rosto. Vestíamos roupas brancas e por trás da minha orelha, pendia uma flor amarela. O sol de fim de tarde realçava os cabelos claros da minha menina. Naquele sonho ela devia ter por volta de dois aninhos. Estávamos felizes e eu estava bem. Não parecia a mesma mulher que eu havia visto no reflexo do espelho. Não existe som. Apenas as gargalhadas e o barulho das folhas de alguns pinheiros se balançando. Onde eu estava? Não conseguia decifrar. Corríamos em direção a uma cabana azul, com uma chaminé, e telhado cor de terra.
Nunca tive a oportunidade de decifrar o que existia naquela cabana. Despertei com o sol das sete, batendo na janela do meu quarto. Me apeguei aquele sonho para seguir em frente, desde então. 

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